6. Água - Onde Encontrar?

Vamos analisar agora a primeira etapa do nosso Ciclo de Uso/Reuso da Água, a Captação.

Figura 7. A etapa de Captação no Ciclo de Uso/Reuso da Água

A etapa de Captação no Ciclo de Uso/Reuso da Água


Cerca de 97% da água disponível na terra é salgada (oceanos e mares), e apenas 3% é água doce. Entretanto é importante lembrar que nas bacias sedimentares a salinidade da água tende a aumentar com a profundidade. E portanto nesses casos a água doce existe apenas nas camadas mais superficiais.

Dos 3% de água doce restante, apenas 1% (ou 0,03% do total) são águas de superfície enquanto que 20% (ou 0,6% do total) de toda a água doce se encontra no subsolo, conforme a figura abaixo:

Figura 8. Distribuição Aproximada da Água Doce no Planeta

Distribuição Aproximada da Água Doce no Planeta


Portanto existe aproximadamente 20 vêzes mais água doce no subsolo do que na superfície.

Conforme a resolução CONAMA No. 357 de 2005, a classificação de água doce, salobra ou salina é feito pelo seguinte critério:

A água de superfície engloba os lagos, umidade do solo, vapor atmosférico, água incorporada em biomassa viva e rios. Dessa fração de águas de superfície 52% (ou 0,015% do total) estão nos lagos e apenas 1% (0,0003% do total) estão nos rios. Toda a água do planeta circula através de diferentes compartimentos: atmosfera, hidrosfera, geosfera e biosfera, por diferentes processos, evaporação, precipitação, escoamento superficial e infiltração, no chamado ciclo hidrológico:

Figura 9. Ciclo Hidrológico (Fonte: USGS)

Ciclo Hidrológico (Fonte: USGS)


O oceano está continuamente perdendo água, que se evapora de sua superfície. Todavia, os volumes de entrada e saída de água dos oceanos são equilibrados e eles permanecem constantes por curtos intervalos do tempo geológico, como anos, décadas ou mesmo séculos.

Mas em grandes escalas de milhares a milhões de anos, entretanto, o equilíbrio pode mudar. Durante a última Idade do Gelo (ao redor de 20.000 anos atrás), por exemplo, quantidades significativas de água do mar foram convertidas em gelo glacial e o nível do mar foi rebaixado por mais de 100 m.(Fonte: O Ciclo da Água)

No Ciclo Hidrológico água pode ficar armazenada em diferentes "reservatórios" com diferentes tempos de residência. A tabela abaixo descreve os tempos de residência aproximados nos diferentes reservatórios pelos quais a água passa no seu ciclo.(Fonte: Para Entender a Terra, 2006

Tabela 1. Tempo de Residência da Água nos Reservatórios do Ciclo Hidrológico(Fonte: PhysicalGeography.net e Environment Canada)

ReservatórioTempo de residência (ano)
Calotas polares10 - 10000
Umidade do solo2 semanas a 1 ano
Água subterrânea1 - 10000 (média 280 anos)
Oceanos4000
Lagos10 a 100 anos
Atmosfera10 dias
Rios2 semanas
Biosfera 1 semana

Pela análise destes valores pode-se entender porque a poluição dos aquíferos (águas subterrâneas) assume proporções mais graves do que a poluição dos rios.

Parte da água das chuvas escoa para os rios e lagos e parte é absorvida pelo solo. Pela gravidade, a água tende a descer numa velocidade proporcional à permeabilidade do subsolo, num processo chamado de percolação. A água irá descer até encontrar uma camada de rocha ou argila impermeável formando um lençol de água.

Figura 10. Estrutura Típica de um Aquífero Subterrâneo (Fonte: SMA/SP)

Estrutura Típica de um Aquífero Subterrâneo (Fonte: SMA/SP)


Na camada superficial de solo encontra-se a zona de aeração ou insaturada onde as partículas de solo estão cobertas com um filme de água, mas ainda existe ar entre as partículas. Mais abaixo está a zona saturada, onde a água deslocou todo o ar, é o chamado lençol de água subterrânea e corresponde a ~0,6% de toda a água no planeta ou ~20% da água doce disponível. A parte superior da região saturada das águas subterrâneas é chamada lençol freático. Em alguns locais, ele ocorre exatamente na superfície do solo dando origem aos pântanos. Quando o lençol freático repousa sobre o solo, encontramos lagos e água corrente.

Alguns aquíferos estão situados entre camadas de rocha impermeável; eles são chamados aquíferos confinados. O aquífero artesiano é um caso particular de aquífero confinado onde ocorre a surgência natural.

Nos Estados Unidos, quase metade da população é abastecida com água extraída dos aquíferos subterrâneos e uma grande parte da água subterrânea é usada para irrigação.

Na Europa, a proporção de água potável pública extraída dos aquíferos chega a quase 100% na Dinamarca, Áustria e Itália e quase dois terços na Alemanha, Suíça e Países Baixos.

No Brasil a extração de águas subterrâneas, para abastecimento público, irrigação, tem aumentado nos últimos anos muitas vezes de forma descontrolada. Em Recife por exemplo, o bombeamento excessivo de água subterrânea tem causado a intrusão da cunha salina, permitindo a penetração de água salgada no aquífero comprometendo o seu uso como água potável. Mais informações podem ser encontradas no artigo Panorama da Qualidade das Águas Subterrâneas no Brasil.

Na região de Bebedouro (interior paulista) estudos geofísicos concluíram que a perfuração de 10 poços profundos (120 a 200 m), para irrigar plantações de laranja nos meses mais secos, estariam causando os cerca de 3 mil tremores registrados nos últimos 5 anos conforme artigo publicado na revista Pesquisa FAPESP com o título: Quando os homens fazem a terra tremer em abril de 2010.

As águas subterrâneas têm sido consideradas tradicionalmente uma fonte de água pura, devido à sua filtração através do solo e ao longo tempo de residência no solo, contendo menos matéria orgânica e microorganismos do que rios e lagos. Entretanto evidências recentes têm mostrado que nem sempre isso é verdade, devido à dissolução de minerais, e compostos orgânicos, de ocorrência natural e antropogênica.

Na realidade a água é um solvente e tende a dissolver os elementos constituintes dos minerais com os quais entra em contato.

Por exemplo, na região do Vale do Rio Pardo e Rio Taquari, RS, Brasil, a ocorrência de fluorose dental vem sendo diagnosticada como uma patologia associada ao consumo prolongado de água subterrânea com excesso de íons fluoreto.(Fonte: Água &Saúde, 2010)

Atualmente existe uma nova ciência chamada Geologia Médica que é definida como a ciência que estuda as relações entre os materiais, seus processos geológicos e seus impactos na saúde humana e de animais, identificando e caracterizando fontes naturais e antropogênicas de substâncias tóxicas no ambiente.

Também é o caso do ferro em sistemas aquíferos como Alter do Chão, Missão Velha e Barreiras e de elevados teores de cromo em águas do sistema aquífero Bauru-Caiuá que muitas vezes inviabiliza o seu uso. (Fonte: Panorama da Qualidade das Águas Subterrâneas no Brasil)

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) mantém o Programa Nacional de Pesquisas em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica (PGAGEM) que tem como principal objetivo o levantamento geoquímico ambiental para fornecer subsídios à saúde pública em todo o território brasileiro, através da amostragem de água, solo e sedimentos de fundo de rios e lagos e análise para identificação de elementos e compostos essenciais e/ou prejudiciais à ingestão humana e/ou animal.

A água é essencial para muitos processos geológicos. Os rios e o gelo glacial são os principais agentes de erosão, ajudando a esculpir a paisagem dos continentes. A água é essencial, também, ao intemperismo, como solvente dos minerais das rochas e do solo ou como um agente de transporte que carrega para longe materiais dissolvidos e alterados. A água que se infiltra nos materiais superficiais forma imensos reservatórios subterrâneos; ela também tem o papel de lubrificar os materiais envolvidos em escorregamentos e outros movimentos de massa.(Fonte: Para Entender a Terra, 2006)

Por isso a importância da integração das ciências geológicas, Geoquímica Ambiental, Hidrogeologia e Geotecnia Ambiental, nos estudos dos fluxos e características da água tanto em superfície como em subsuperfície, para um adequado gerenciamento dos recursos hídricos:

Figura 11. Integração das Ciências Geológicas

Integração das Ciências Geológicas


Para quem quiser conhecer mais sobre Águas Subterrâneas, visite o site do Prof. Eurico Zimbres.