O objetivo desse projeto é implementar um sistema automatizado para avaliar a capacidade de adsorção de Carvão Ativo pela determinação da “Curva de Ruptura”. (Breakthrough Curve)
O objetivo inicial é avaliar a capacidade de adsorção de Carvão Ativo, mas esse sistema poderia ser usado para avaliar qualquer outro tipo de material adsorvente ou reativo para o tratamento de água.
E para esse projeto vamos implementar “inicialmente” um módulo de “bombeamento passivo”, “comutação” e “detecção fotométrica em fluxo” para estudos de saturação de carvão ativo em coluna.
O carvão ativo pode ser obtido a partir de várias fontes: madeira, turfa, lignita e até de ossos.
É produzido pela carbonização em condições anaeróbicas abaixo de 600 °C seguida de uma etapa de ativação que consiste numa oxidação parcial. Essa ativação pode ser feita com CO2 (600-700 °C) ou água (800-900 °C).
Pode ser caracterizado pela granulometria, área superficial, capacidade de adsorção, dentre outros parâmetros.
Quanto à granulometria o carvão ativo costuma ser classificado em Carvão Ativo em Pó (CAP) e Carvão Ativo Granular (CAG).
O critério de tamanho de partícula para essa classificação não é absoluto:
Carvão Ativo em Pó (CAP) - partículas com 50-100 μm de diâmetro
Carvão Ativo Granular (CAG) - partículas com 0,1-1 mm de diâmetro (Fonte: Stanley E. Manaham, 2000).
Carvão Ativo em Pó (CAP) - partículas com 1-150 μm de diâmetro
Carvão Ativo Granular (CAG) - partículas com 0,5-4 mm de diâmetro (Fonte: Meios filtrantes para filtros tipo leito).
Carvão Ativo em Pó (CAP) - partículas com 1-500 μm de diâmetro
Carvão Ativo Granular (CAG) - partículas com 0,5-10 mm de diâmetro (Fonte: Aula 15 - Sólidos Particulados).
A granulometria não vai afetar a área superficial mas vai influenciar no tempo de contato necessário da amostra com o carvão para uma purificação efetiva. (Fonte: Efeito da Granulometria de Carvão Ativado e do Tempo de Decantação na Remoção de LAS)
A adsorção de moléculas na superfície do carvão pode ser Física (ou de Van der Walls), quando envolvem dipolos permanentes ou dipolos induzidos, ou Química, quando envolvem ligações químicas entre o adsorvato e a superfície do adsorvente formando um composto químico de superfície ou um complexo de adsorção. (Castellan)
Outro aspecto a considerar é as condições da solução (pH, temperatura), tempo de contato (tempo de residência na coluna) e as condições de fluxo: batelada ou fluxo contínuo (leito fixo ou leito fluidizado).
Lembrar que o carvão vai ficar saturado. Mas como identificar o momento da saturação? E o que fazer depois? Descartar ou regenerar?
Outro aspecto importante é a “Capacidade Adsortiva” que é a quantidade de adsorvato adsorvida por unidade de peso do adsorvente.
A capacidade adsortiva para diferentes substâncias pode variar para os diferentes tipos de carvão.
Portanto é sempre bom lembrar que o carvão ativo “não faz milagres”, ou seja, não remove qualquer tipo de substância presente da água.
O tratamento de efluentes com carvão ativo pode ser feito em “batelada” ou “contínuo”. Neste caso o efluente passa através de uma coluna contendo carvão ativo. Inicialmente a concentração do efluente na saída da coluna é baixa (ou ausente). Mas na medida em que os “sítios ativos” do carvão são ocupados, a concentração do contaminante no efluente da coluna tende a aumentar até atingir o valor máximo permitido, ou o desejado pelo tratamento.
Esse ponto é chamado de “ponto de ruptura”, e indica que o leito filtrante de carvão ativado deve ser substituído ou regenerado. Entretanto, se o funcionamento permanecer, chegará ao ponto em que o carvão ativado não terá mais capacidade de adsorção, estando completamente saturado. Este ponto é chamado de saturação (ou exaustão), e nesse ponto a concentração do contaminante na saída da coluna é igual à sua concentração na entrada da coluna (afluente) (C/C0 = 1), como mostra a figura 358. (Fonte: Predição da performance de carvão ativado granular para remoção de herbicidas com ensaios em coluna de escala reduzida)
Figura 358. Deslocamento da Zona de Transferência de Massa (ZTM) e variação da concentração do efluente da coluna de adsorção em carvão ativo ao longo do tempo - curva de ruptura. Onde: C0 - concentração do contaminante no afluente; C - concentração do contaminante no efluente; ZTM - Zona de Transferência de Massa; CAG - carbono ativado granular. (Fonte: Efeito da Granulometria de Carvão Ativado e do Tempo de Decantação na Remoção de LAS)
O sistema será composto por componentes físicos (hardware) e lógicos (software) para bombeamento “passivo”, comutação e aquisição de sinal analítico.
Parte dos componentes físicos serão responsáveis pela manipulação de líquidos e outra parte responsável pelo controle de válvulas e detectores e a transdução e processamento de sinais elétricos e/ou luminosos, para a aquisição automatizada de dados.
Para o controle e monitoramento automatizados será usada a placa Arduino como interface entre um computador e os componentes físicos para monitoramento e controle.
E como computador podemos usar um desktop, laptop ou uma placa Raspberry Pi.
Projetamos um sistema automatizado procurando usar o conceito de “bombeamento passivo” aproveitando o conceito da Garrafa de Mariotte.
Bombeamento passivo, consiste no bombeio de fluidos sem o consumo de energia elétrica para o acionamento de bombas. Mas pelo uso de processos físicos tais como: osmose, capilaridade, tensão superficial ou desnível gravitacional.
A Garrafa de Mariotte é um dispositivo que permite obter um “fluxo com pressão constante” sem o uso de uma bomba e independente do nível de água no reservatório, como mostra a figura 359.
Figura 359. Princípio de funcionamento de uma Garrafa de Mariotte (Fonte: https://www.instructables.com/id/Green-Drip-Irrigator/)
A pressão é constante e depende do desnível h entre o tubo de entrada de ar e a saída do líquido, enquanto o nível do líquido estiver acima da saída do tubo de entrada de ar.
Quando o nível do líquido estiver abaixo da saída de ar a pressão passa a ser proporcional ao nível do líquido no reservatório.
Um artigo A hydrostatic pressure-driven passive micropump enhanced with siphon-based autofill function demonstra o uso prático desse conceito para o bombeio passivo de fluidos em circuitos microfluídicos como mostra a figura 360.
Figura 360. Diagrama esquematico de um sistema de bombeamento passivo em circuitos microfluídicos usando o conceito da garrafa de Mariotte
E a comutação será feita com o uso de válvulas de 3 vias como mostra a figura 361.
O sistema foi concebido inicialmente conforme o diagrama da figura 362.
Na parte superior da figura 362 existem dois reservatórios, um para água com contaminante e outro para água pura, que operam segundo o princípio da Garrafa de Mariotte.
Inicialmente o reservatório é alinhado com a coluna contendo o carvão ativo que será avaliado para o ajuste da vazão que será usada durante o teste. Em seguida a válvula de 3 vias é acionada para alinhar o reservatório, contendo água contaminada, com a coluna de carvão.
O ajuste da vazão na coluna é definido pelo Δh entre o nível da água no topo da coluna e o nível da água no tubo “T”, que também evita o efeito de “sifonamento”.
Aproveitamos uma chapa de piso laminado que foi cortada em 2 partes. A parte menor foi usada como base sobre a qual foi fixada a peça maior com o uso de 2 “cantoneiras”, parafusos e porcas.
A estrutura foi pintada e foram fixadas 2 barras com rosca para fixação dos suportes da coluna e sifão como mostra a figura 363).
Figura 363. Etapas da montagem da estrutura física utilizando chapa de compensado (piso laminado) fixados com cantoneiras, apoio para os reservatórios e barras roscada para os suportes da coluna e sifão.
Em seguida foi fixada a válvula de comutação como mostra a figura 364).
A figura 365 mostra a colocação dos tubos na tampa do reservatório para a entrada de ar no sistema de Garrafa de Mariotte.
Para o escoamento do conteúdo do reservatório, foi feito um furo de ~5,5mm para a fixação de um tubo de plástico rígido (suporte para balão - médio - que pode ser encontrado em lojas de artigos para festas) como mostra a figura 366.
Para aumentar a vedação e evitar vazamentos foram colocados pequenos anéis feitos com o mesmo material da mangueira pelo corte de pequenos anéis da própria mangueira.
Figura 366. Colocação do tubo de escoamento na base do reservatório conectado a mangueira de silicone
Para conectar a mangueira de saída do reservatório na conexão Luer Lock™ na torneira de 3 vias adaptamos uma seringa de 5mL para garantir a estanqueidade da conexão como mostra a figura 367.
Figura 367. Conexão da mangueira de silicone do reservatório à torneira de 3 vias utilizando uma seringa de 5mL
A coluna para colocação do carvão (ou outro qualquer adsorvente) foi montada usando uma seringa de 10 mL adaptando 3 tubos no êmbolo com as seguintes funções: entrada da amostra, entrada de ar para o frasco de Mariotte e tubo para equalizar a pressão da seringa com a pressão atmosférica. A figura 368 mostra os detalhes da adaptação.
Figura 368. Adaptação do êmbolo da seringa de 10mL para entrada da amostra, entrada de ar para o reservatório e equalização da pressão.
Detalhes das conexões na coluna (seringa de 10mL) para colocação do carvão (ou outro qualquer adsorvente). (Figura 369 mostra os detalhes da adaptação.)
Para o controle da válvula e a aquisição das leituras do sensor fotométrico de fluxo montamos a placa Arduino no interior de uma caixa plástica com entrada para o cabo USB como mostra a figura 370.
Para verificar a vedação das conexões e a eficiência do mecanismo de controle do escoamento pelo desnível de vasos comunicantes fizemos o primeiro teste.
Link para download do vídeo: Teste de escoamento do sistema Mariotte.
Para fazer a comutação ligamos o servomotor à placa Arduino e a uma fonte de alimentação externa utilizando provisioriamente uma protoboard.
O teste mostrou que os reservatórios usados não apresentam uma boa vedação e por isso o sistema de Mariotte não funcionou. Além disso o diâmetro do tubo em “Y” utilizado dificultava o livre escoamento do efluente da coluna.
Por isso decidi investir em um sistema de bombeamento ativo com uma Bomba de Seringa. Mas isso significa incluir mais módulos (bombeamento e comutação) e consequentemente o aumento da complexidade do sistema.
O programa de controle deve ser capaz de controlar “simultâneamente” bomba(s), válvula(s) e detector(es). E por isso vamos usar os resultados do projeto Sistema Multipropósito para Monitoramento e Controle de Processos em Laboratório - SisProLab.